Os escravizados africanos da América Portuguesa
(século XV-XIX) sofriam maus tratos nas mãos de seus senhores e viviam em
péssimas condições. Porém eram antes de escravizados, humanos, e suas vontades
foram demonstradas das mais variadas formas, pois ser escravo naquele período
era sobretudo resistir. Da melancolia ao assassinato dos seus senhores, do
controle da natalidade às fugas, essas formas de resistências pacíficas ou
agressivas revelavam que os escravizados povoaram o seu cotidiano de táticas
que visavam a sua sobrevivência. As fugas poderiam ser individuais ou em massa
e deram origem aos mocambos ou quilombos.
O termo “mocambo” significa “esconderijo”, já o termo
“quilombo” é originário da língua banto, kilombo,
e significa povoação ou fortaleza. No continente africano, mais precisamente em
Angola, os quilombos eram fortificações onde os guerreiros passavam por rituais
de iniciação para o combate e a magia. Porém o termo no período Colonial
significou muito mais que o sentindo dado pela língua africana, pois a palavra
se generalizou com o conhecimento do Quilombo dos
Palmares (1597-1694), significando um espaço de resistência,
luta e liberdade para os africanos e afrodescendentes.
A formação dos quilombos no período se constitui para
além do sentindo de refúgio improvisado dos ex-escravos. Os quilombos
tornaram-se uma nova possibilidade de vivencia na ordem escravista, pois
conciliavam dentro de um novo espaço político resistência e negociação,
rejeição e convivência, sendo assim, perigoso aos olhos dos senhores. Os
quilombos não eram lugares isolados da sociedade colonial, pois mantinham
vínculos com os mais diversos setores tais como: relações comerciais; redes
para obtenção de informações; laços afetivos e amorosos. Como podermos perceber
os quilombos se situavam nas periferias urbanas e rurais estabelecendo contatos
que garantiam a sua sobrevivência e manutenção de suas estruturas. Os
principais alimentos cultivados pelas populações dos quilombos eram milho,
mandioca, feijão, fumo, batata-doce, e mantinham também a criação de galinhas,
graças às trocas com os que viviam no entorno. Havia também quilombos que
atacavam cidades, fazendas e viajantes nas estradas, a fim de conseguir animais
de corte entre outros proventos. A dinâmica de trocas estabelecida contava com
vários personagens que tinham seus interesses, seja por lucro ou por lealdade.
Entre eles figuravam os contrabandistas, que negociavam produtos; os escravos
que permaneciam nas fazendas e passavam informações entre os quilombos; os
mascates que vendiam pólvora, aguardente, sal, roupas e compravam
aquilo que os quilombolas saqueavam. As forças armadas da colônia não deixavam
essas ações impunemente, e os quilombos sofriam inúmeros ataques, como foi o
caso da Guerra dos Palmares.
Em todo território houve a presença de quilombos, e
cada um tem a sua própria história. O mais famoso deles era o de Palmares. Este
quilombo foi formado por escravizados de uma fazenda de açúcar em Pernambuco,
que subiram a serra da Barriga, já no estado atual de Alagoas, por volta de
1597. Seu nome vem das palmeiras abundantes na região, que usavam para
construir suas casas e extrair o palmito. Os primeiros habitantes eram
provenientes das regiões onde hoje ficam Angola e Congo, porém ao longo dos anos
formaram uma nação multiétnica que contava com indígenas e europeus. No auge
Palmares chegou a abrigar 20 mil habitantes, fato que chamou a atenção das
autoridades coloniais que submeteu a vários ataques, gerando a Guerra dos
Palmares, que foi liderada por Zumbi dos
Palmares contra as autoridades coloniais até 1694 quando foram
derrotados após resistir a 42 dias de sítio. Os quilombos são símbolos até hoje
nas lutas por inclusão social dos negros no Brasil, pois mostra que os
africanos foram vítimas de um sistema escravista mas não se acomodaram ao
regime imposto, pelo contrário, lutaram por sua liberdade.
Referência bibliográfica:
SCHWARCZ, Lilia & STARLING, Heloisa. Brasil: uma
biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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