quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A Guerra, o Cinema e a Propaganda

Ainda que o termo "guerra", no sentido estrito, refira-se à confrontação violenta entre dois ou mais exércitos, o certo é que as batalhas não se desenvolvem sempre no chamado "campo de honra", mas também em terrenos não menos respeitáveis como o da mídia: pelo rádio, pelo cinema e pela televisão. Comentar o "cinema de guerra", pois, é falar também do cinema como veículo de idéias políticas, econômicas e sociais. Nos tempos, não tão distantes como parece, em que a televisão não era o principal meio de doutrinamento das massas, o cinema era a arma mais poderosa para convencer um povo em guerra acerca daqueles princípios indiscutíveis que tornam inevitável a vitória e que permanecem sintetizados na absoluta superioridade técnica e moral sobre o inimigo. Por outro lado, este necessita das mínimas motivações que legitimem sua atitude.
Já na Primeira Guerra Mundial, deu-se início à utilização do cinema como suporte do esforço bélico, todavia, de forma bastante limitada e ingênua. Embora a sétima arte começasse a sair da infância, ainda não gozava da confiança dos poderes políticos e militares e nem detinha o atrativo irresistível em relação à grande parcela da população, como ocorrerá alguns anos mais tarde. As fitas de propaganda que circularam no período da Grande Guerra eram poucas e de origem quase exclusivamente norte-americanas. Isto se deve, basicamente, ao elevado nível industrial que o cinema dos EUA havia alcançado e sua grande capacidade de "seduzir" o público, e, por outro lado, condicionar suas principais características. Como os Estados Unidos demoraram muito para entrar nessa disputa, percebemos que os primeiros filmes dedicados à Guerra possuíam uma curiosa mensagem pacifista: o exemplo mais conhecido é a produção de Thomas H. Ince,Civilization (1916, estreada na Espanha com o título de La Cruz de la Humanidad), que poderia ser considerada como um apoio tácito à candidatura isolada de Woodrow Wilson. Seu antibelicismo primário e retórico encaixa com perfeição na raiva antigermânica, igualmente irracional, que pode ser apreciada em um filme posterior à disputa, porém, também produzido por Ince: Bahind the Door (1920). Nesta virulenta denúncia da barbárie tudesca, podemos ver como os tripulantes de um submarino alemão violam e assassinam uma enfermeira americana e depois se desfazem do cadáver mediante um prático e original recurso com o lança-torpedos. Estabelecida a premissa de que os alemães são umas feras sem consciência, os autores nos preparam para a cena final, na qual o marido da enfermeira (que tem a astúcia de se apresentar como um imigrante de origem alemã) tem a oportunidade de se vingar do capitão do "V-Boot", esfolando-o vivo.
Em resumo, podemos dizer que os filmes de propaganda contemporâneos à Guerra de 1914 não têm a sutileza, complexidade — porque dizem tudo — e a efetividade que teriam os produzido ao abrigo da Segunda Guerra Mundial, mais mortífera e também muito mais "ideológica". Por isso, vamos limitar nossa exposição ao período compreendido entre 1933 (marcado pela ascensão do nazismo na Alemanha) e 1945 (final oficial da Segunda Guerra), e àqueles países europeus submetidos a um regime político totalitário, isto é, o Terceiro Reich, a Itália fascista e a União Soviética. Isso não quer dizer que os Estados Unidos não praticaram, através de Hollywood, uma defesa consciente de seus interesses políticos e, sobretudo, econômicos; porém, ao basear sua mensagem em conceitos teoricamente "positivos", como são os de repulsa à tirania, defesa da democracia e da autodeterminação dos povos, etc., suas películas são menos ilustrativas do que entendemos habitualmente como propaganda bélica.

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